O turismo brasileiro está diante de uma medida infeliz e prejudicial para o setor. Cidadãos dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália não contam mais com a liberação do visto de turismo para entrada no País, que existia desde 2019. Em uma decisão considerada equivocada por toda cadeia de turismo do Brasil, o Governo Federal voltou a exigir o visto aos visitantes desses países, e isso pode causar muitos prejuízos à economia nacional.
Os passageiros dos EUA, por exemplo, formam o segundo principal grupo de visitantes do Brasil, atrás apenas dos turistas argentinos. Somente em 2020, cerca de 700 mil americanos entraram no Brasil. Um número importante, considerando as restrições impostas pela pandemia. Dados da AG Immigration, consultoria especializada em green cards, afirmam que quase 400 mil norte-americanos estiveram no Brasil em 2022. A contagem é feita apenas com visitantes que se hospedaram ao menos uma noite no país.
De acordo com informações do Banco Central, turistas estrangeiros gastaram cerca de U$ 5 bilhões durante as visitas ao Brasil, apenas em 2022.
Um levantamento realizado a pedido da Embratur mostra que o turismo mundial com viagens aéreas é movimentado principalmente pelos viajantes com passaporte dos EUA. Entre dezembro de 2022 e março de 2023, eles lideraram as compras dos bilhetes internacionais para embarques em aeronaves no verão. Estamos dificultando a entrada, no Brasil, dos turistas que mais circulam pelo mundo! O Governo Federal está cometendo um erro!
Nesta última semana, representantes do setor aéreo e hoteleiro se manifestaram contra a medida. O especialista e gestor de Turismo e Hotelaria e membro do Conturesp Bruno Omori afirmou, em entrevista recente, que o governo está fazendo exatamente o contrário do que deveria fazer.
Ele defende a importância de se trabalhar o Brasil como uma potência mundial de atração de estrangeiros. “Devemos tirar a exigência de vistos de todos, assim como na economia o governo reduz impostos para alguns setores, a fim de atrair investidores. Devemos tratar o turismo como um produto de exportação”, disse. Concordo com o amigo Bruno.
É muito importante e urgente que o Governo Federal reveja essa decisão. Como secretário de Turismo do Estado de São Paulo, acionei o Fornatur, o Ministério do Turismo e a Embratur, além de levar nossas preocupações ao conhecimento do Ministério das Relações Exteriores e ao Ministro das Relações Institucionais. Estou também contando com o apoio da bancada do Republicanos e a bancada paulista no Congresso Nacional.
O turismo representa 10% dos empregos do mundo, isso considerando apenas a cadeia direta: hotelaria, gastronomia, transportes. E foi o setor mais atingido pela pandemia. Em 2019, o turismo mundial recebeu 1,5 bilhão de pessoas viajando pelo mundo e gerou U$ 1,8 trilhão. Durante a pandemia, o número de viajantes em todo o mundo caiu para 200 milhões de pessoas.
Estamos, a duras penas, em plena retomada. Não podemos nos dar ao luxo de dificultarmos visitantes que já teriam livre acesso ao País, por conta de uma medida para a qual não existe nenhuma justificativa.
Pelo contrário, precisamos facilitar o ingresso do turista estrangeiro no país e aumentar os investimentos na promoção dos atrativos turísticos e naturais brasileiros. Neste quesito, estamos muito atrás de diversos países. Em 1994, o México recebia cerca de 4 milhões de turistas estrangeiros, número equivalente ao que o Brasil recebia no mesmo período. Em 2019, enquanto o Brasil recebia 6 milhões de turistas estrangeiros, o México recebia 45 milhões de visitantes de outros países, mesmo sendo um País considerado “violento e inseguro”.
O que o México fez que para impulsionar seu turismo que nós ainda não fizemos? Claro que foi um conjunto de iniciativas, mas uma das medidas que o País tomou foi tirar a exigência do visto de turismo para cidadãos americanos, mesmo diante da exigência do visto para que cidadãos mexicanos possam entrar nos EUA. O México investe cerca de U$ 500 milhões para atrair turistas estrangeiros e assim como diversos países, criou áreas turísticas seguras para receber seus visitantes, conceito parecido com os distritos turísticos que vem sendo criados no Estado de São Paulo e serão consolidados no governo Tarcísio de Freitas.
O potencial turístico do Brasil é inquestionável, porém ainda temos muito o que aprender com outros países. Para avançar a gente precisa querer de verdade. O crescimento não acontecerá naturalmente, será baseado em estratégia, inteligência, coerência, qualificação, infraestrutura, segurança, promoção e muito trabalho. É preciso que o Brasil pare de cometer erros e de se autossabotar.
Artigo originalmente publicado na coluna tal, IG