Roberto de Lucena presta homenagem a líderes evangélicos e lê carta aberta à presidente Dilma sobre realização do Enem aos domingos

Sr. Presidente, Deputado Luiz Couto, que acaba de reassumir a presidência desta sessão, Deputado Policarpo, que até então estava conduzindo os trabalhos, Sras. e Srs. Parlamentares, eu quero inicialmente cumprimentar o Deputado Luiz Couto, do PT da Paraíba, como da Paraíba era o meu pai, pelo brilhante pronunciamento que fez há pouco, utilizando-se desta tribuna, trazendo-nos uma palavra muito forte, contundente, atual, profética e sacerdotal.
Muito obrigado. As suas palavras nos agraciaram e nos iluminaram, Deputado Luiz Couto, porque traduziram para nós a palavra de Deus. Parabéns, Excelência, pelo brilhante pronunciamento.
Sr. Presidente, eu estou Deputado Federal. Eu sou pastor evangélico. Sou filho de pastor, sou neto de diáconos. Sou a terceira geração de obreiros da minha família. Amanhã, dia 2 de novembro, estarei completando 27 anos de ordenação pastoral. Nesta data importante para mim, quero fazer algumas homenagens. Quero homenagear a memória de três pessoas que foram muito importantes na construção da minha história, na construção do meu ministério.
A primeira dessas pessoas às quais quero daqui fazer menção e, com justiça, sobre elas fazer o registro nos Anais desta Casa, é um missionário, um diácono da Igreja Batista chamado Missionário Cabral, irmão Cabral.
Eu comecei o meu trabalho, o meu serviço ao lado do meu pai muito cedo, aos 6 anos de idade, já como pregador. E o irmão Cabral me descobriu, aos 8 anos de idade. Ele, durante mais de 2 anos, viajando por mais de 2 horas, a cada sábado, ficava comigo por 2 horas dedicando-se, não a um plenário, não a uma congregação, mas se dedicando a uma única criança, uma criança de 8 anos. Ele, com o seu flanelógrafo, com a sua vitrolinha de papelão, estava ali a compartilhar histórias bíblicas, a ministrar princípios de vida, palavras de sabedorias que contribuíram para a minha formação, que me acompanharam ao longo de todos esses anos e me influenciaram de maneira importante.
A minha dívida para com a Igreja Batista, em homenagem e honra à memória desse missionário, é uma dívida impagável.
A segunda pessoa que eu quero daqui homenagear – e homenagear a sua memória – é o fundador da Igreja O Brasil Para Cristo, Missionário Manoel de Melo. Que influência poderosa Missionário Manoel de Melo exerceu sobre a minha vida. Ele, nordestino da Zona da Mata, lá da cidade de Água Preta, no distante rincão de Pernambuco, de lá saiu, membro da Assembleia de Deus, para o Estado de São Paulo, onde, anos depois, ainda jovem, haveria de começar o movimento de fé, de evangelização e de obras sociais que haveria de repercutir não somente em todos os locais do nosso enorme, do nosso gigante Brasil, em todos os rincões do País, mas que haveria também de repercutir em vários países do mundo onde a sua presença foi uma realidade. Em mais de cem países ele esteve evangelizando e fazendo a obra social.
A Igreja O Brasil Para Cristo é uma das maiores denominações evangélicas do País, com 4 mil templos e quase 1 milhão de membros. E tenho muito orgulho de dizer que, na fé, sou filho do Missionário Manoel de Melo e desta geração de pioneiros que enfrentou o preconceito, a discriminação contra a fé evangélica, no início da década de 1950, e, mesmo tendo as suas tendas queimadas, os seus templos depredados e destruídos – mesmo tendo sido ele próprio preso 27 vezes, por conta da prática da fé, e vendo seus companheiros também serem perseguidos -, levou adiante essa mensagem, essa proposta para a Nação.
A terceira pessoa que daqui quero homenagear – e homenagear a sua memória – é o meu pai.
O meu pai se converteu à fé evangélica quando eu tinha 1 ano de idade, lá na nossa querida cidade de Santa Isabel, Deputado Luiz Couto, onde o Prefeito eleito é um padre e o Vice-Prefeito é pastor, o meu irmão caçula, o pastor David. Lá, meu pai foi pastor por 40 anos, da mesma Igreja – o mesmo rebanho, o mesmo povo.
A influência que o meu pai exerceu sobre a minha vida, não somente religiosa, mas também sobre a minha vida pessoal, sobre o meu caráter, sobre a minha vida ministerial, é indescritível. Ele faleceu no dia 14 de outubro de 2010, há 2 anos, e deixou uma lacuna que jamais será preenchida: um amigo, um conselheiro, um confidente, um homem cuja memória, cuja história e cuja trajetória não somente me honraram e a minha família, a Igreja O Brasil Para Cristo, mas também todas as igrejas de confissão evangélica deste País.
Quero também, na pessoa dos meus amigos pastores – o Apóstolo e Presidente da Igreja O Brasil Para Cristo em São Paulo, o Reverendo Luiz Bergamin, e o Pastor Orlando Silva -, cumprimentar a todos os pastores da denominação O Brasil Para Cristo no País.
Quero abraçar, Sr. Presidente, o meu povo de Arujá, o meu povo do Estado de São Paulo, o meu povo de todo o Brasil. Este povo que ora por mim, que intercede, que me acompanha, que me respalda e que me dá condições de, em seu nome, fazer nesta Casa a luta em defesa da vida e em defesa da família.
Na pessoa do Apóstolo Doriel de Oliveira, quero finalmente abraçar a todos os pastores evangélicos do Brasil, muitas vezes alvo de preconceito e discriminação, mas que, nas igrejas grandes ou pequenas, nas grandes cidades ou nos rincões mais distantes, estão a cada dia servindo ao povo, elevando a palavra de Deus, elevando a obra de Deus através do seu trabalho social.
Sr. Presidente, finalizando a minha palavra e a minha participação na tribuna nesta ocasião, eu quero fazer a leitura da Carta Aberta à Presidenta Dilma, uma carta aberta que se refere à realização do ENEM aos domingos, o que direta e especialmente afeta os adventistas do sétimo dia e os judeus em todo o Brasil.
Meu ilustre Presidente, Deputado Luiz Couto, assim como V.Exa. citou da tribuna textos oportuníssimos da Bíblia Sagrada, quero também evocar um versículo da Bíblia: os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Como sou o último a falar nesta oportunidade, peço a V.Exa. que me conceda a condição de fazer esta leitura:
“Nós, representantes das comunidades brasileiras cristãs e acadêmicas, adiante assinados, secundados ainda por outros representantes do povo também subscritos que, embora professem crença diversa ou, até mesmo, não sejam filiados a qualquer religião, se sensibilizaram e ofereceram seu apoio, vimos, respeitosamente, dirigir a V.Exa. o seguinte apelo:”
Repito que é uma carta aberta à Presidenta Dilma Rousseff, referente à realização do ENEM aos domingos.
“A situação que desejamos seja solucionada é a dos candidatos pertencentes à comunidade judaica, que, por guardarem o sábado, não podem realizar a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) antes do pôr do sol, atualmente sendo obrigados a aguardar no local e fazer a prova à noite, em situação extremamente penosa e, contudo, de facilíssima solução, que nenhum prejuízo ou inconveniente traria a quem quer que seja.
Apela-se à sensibilidade de V.Exa. para, tão e simplesmente, que sejam determinadas as providências cabíveis no sentido de que a próxima edição do Enem e também as sucessivas sejam realizadas, como aliás o era até pouco tempo atrás, em dois domingos e não mais em um único fim de semana.
Seria uma solução muitíssimo menos gravosa, seguramente, do que constranger os que guardam o sábado a chegarem aos locais de prova junto com os demais inscritos e fazê-los esperar por horas, até o cair da noite, como hoje lamentavelmente se faz, para que, afinal, iniciem uma avaliação que, como se sabe, é complexa, extensa e, por que não dizer, também decisiva para a vida acadêmica e para a vida profissional dos milhares e milhares de brasileiros que buscam ascensão em todos os níveis. Além das horas de espera, após fazer as provas no período noturno, o intervalo para descanso até o dia seguinte, em que ocorrerá nova prova, é insuficiente.
Em situações mais gravosas para o país, como o serviço militar, por exemplo, a Constituição providencia solução alternativa. Aqui, por maior razão, deve existir sensibilidade, pois o que se almeja é tão somente que as provas voltem a ser, como antes, apenas aos domingos.
Apelamos ainda para a sensibilidade de V.Exa., não apenas como governante, mas também como mulher e mãe, a fim de resguardar os jovens, os quais merecem a oportunidade de competir em igualdade de condições, porém, a situação atual não assegura esse estado.
Entendemos desnecessário e gravoso e completamente fora da cultura de paz, harmonia e tolerância que caracterizam o país deixar mais de 30 mil jovens em situação altamente prejudicial a seu desempenho, com graves prejuízos ao processo de seleção para o ensino superior. Acreditamos que com boa vontade e sabedoria este assunto possa ser resolvido. Embora não acometidos diretamente pelo problema, buscamos V.Exa. munidos do espírito de fraternidade que une todos os brasileiros e que é, dentro de muitos, um dos maiores exemplos que nossa pátria oferece ao mundo.
Aproveitando o ensejo para manifestar a nossa mais alta estima e consideração por V.Exa., por seu compromisso com os valores democráticos e por sua história de luta pela liberdade e pelos direitos humanos, e confiando ainda em sua sensibilidade, subscrevemo-nos.”
Sr. Presidente, faço daqui o registro desta carta aberta dirigida por lideranças de comunidades brasileiras cristãs e acadêmicas a S.Exa., a Presidenta da República, Dilma Rousseff, sobre a preocupação com a realização do ENEM num novo formato, que prejudica cerca de 30 mil jovens em todo o Brasil.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
Era o que eu tinha a dizer.

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