Custos financeiro e social para a Copa de 2014 preocupa Roberto de Lucena

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ao ler sobre as análises do Tribunal de Contas e outros relatórios sobre o andamento das obras da Copa do Mundo de 2014, uma inevitável inquietação assolou-me sobre qual será o custo real desse evento – e não me refiro apenas ao custo financeiro, mas também ao custo social.
É evidente que há um custo que não está oficialmente previsto, nem incluso, nem explícito nesses relatórios. São identificados a falta de planejamento e também atrasos dos cronogramas traçados. Tudo isso acarretará custos adicionais aos cofres públicos e até mesmo inviabilizará a conclusão de alguns projetos, tais como obras de aeroportos, estádios e mobilidade urbana.
É fato que há maior aporte de investimentos públicos do que o previsto inicialmente na Copa do Mundo de 2014, principalmente no que diz respeito às obras dos estádios. Quando da escolha do Brasil como sede da Copa, o discurso era de que 60% dos investimentos seriam privados. A previsão de gastos em 2007, quando ganhamos o direito de receber a Copa era de R$ 2 bilhões para 18 sedes. Em janeiro de 2011, a previsão já era de R$ 5,6 bilhões, para 11 sedes.

A mobilidade urbana é a área que continua liderando a destinação de recursos – passou de R$ 10,9 bilhões há 3 meses para R$ 12 bilhões em junho. O investimento em aeroportos também subiu de R$ 6,5 bilhões para R$ 7,3 bilhões. Os governos locais são a principal fonte de investimento, respondendo por 25,8% dos gastos totais.
O atraso das obras e os seus elevados custos saltam aos olhos de todos e são manchetes dos jornais. Mas há outro custo, um custo humano, que não pode ser relegado a segundo plano, principalmente em um país em que a saúde pública e a educação encontram-se em situação tão calamitosa.
Todos os dias os jornais noticiam verdadeiras tragédias em relação à saúde do brasileiro, ao atendimento nos hospitais públicos, em especial em relação aos idosos. E também na área da educação temos inúmeros desafios a resolver, tais como o impasse que vivenciamos no momento em relação à greve das universidades públicas federais.
Fica muito difícil defender esse extrapolo, esse descontrole de investimentos públicos não previstos e não combinados, quando não chegamos a reconsiderar, por exemplo, os salários dos policiais, a diminuição da jornada de trabalho dos enfermeiros para 30 horas, a recomposição do salário de professores, dos servidores públicos, entre outros, com base nos estudos do impacto econômico. É indefensável!
Em outra perspectiva, qual será o legado que a Copa deixará para o povo brasileiro? A longo prazo deve-se ter como metas a inclusão social, a formação de atletas, o combate ao uso de drogas, o combate à violência e à exploração sexual. Sabemos que há a previsão de ações nesse sentido por parte do Governo, mas pouco ouvimos falar sobre isso.
Precisamos fortalecer a discussão a respeito desse tema e cobrarmos, além da boa gestão financeira dos recursos destinados à Copa, a excelência na sua organização no que diz respeito às questões dos direitos humanos.

Nesse sentido, na organização da Copa, temos de ter um olhar atento para essas questões sociais de interesse do povo brasileiro, combatendo o abuso da vulnerabilidade de crianças e adolescentes. É claro que também temos de analisar o custo desse evento em termos de benefícios que poderiam ser concedidos a nossa sociedade, tão carente de ações que qualifiquem, em especial, as áreas de saúde e educação.
Não sou contrário à realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Penso que podemos tê-la como uma grande alavanca de bons índices, de bons resultados para todo o nosso povo.
Temo apenas que estejamos perdendo uma oportunidade única de oferecermos um bom legado ao País. Temo que, no final, a conta elevada seja mais uma vez paga pelo contribuinte brasileiro, totalmente impotente no processo e sem direito de manifestar-se.

Tenho certeza de que, se tivermos um olhar responsável, voltado para o legado social que a Copa de 2014 poderá nos deixar, teremos condições de sediar um evento inesquecível e à altura da família brasileira.
Que em nosso campo se multiplique o gado e se multipliquem os grãos! Que em nosso mar e em nossos rios multipliquem-se os peixes! Que ninguém neste País se envergonhe de ser brasileiro!
Que Deus abençoe o Brasil!

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