Anos atrás, estava participando de um culto na Igreja O Brasil Para Cristo em Arujá, onde aconteceu uma apresentação teatral.
No momento em que as cortinas deveriam ser abertas, algo de errado aconteceu e caíram com tudo no chão, juntamente com o cabo de aço que lhes servia de trilho.
Eu fiquei chocado, claro, mas vi, aliviado e orgulhoso, que os jovens integrantes do elenco tiveram a presença de espírito de darem sequência ao seu trabalho, mesmo diante do imprevisto. Ao mesmo tempo, notei que o responsável pelas cortinas, um então adolescente, deixou o seu lugar e saiu apressadamente por uma porta lateral do templo, aproveitando-se de que as luzes estavam apagadas. Ao ver a maneira, como saiu, percebi que não estava bem e por isso, mesmo que discretamente, para não chamar a atenção, logo fui atrás dele e o vi descer correndo pela rua. Estava indo embora, fugindo da situação, envergonhado!
Ah, não tive dúvidas! Corri atrás dele! E quando ele percebeu que alguém o estava seguindo, correu ainda mais rápido. Como consegui alcançá-lo, até hoje não sei. Mas alcancei-o algum tempo depois. Então, deparei-me com um rosto desesperado. Era comovente. Ele chorava, soluçava. Pedia-me perdão pela falha da cortina e que o soltasse para que fosse embora.
Eu o segurei firme, olhei fixamente em seus olhos, chamei-o pelo nome e disse: “Filho, você está com vergonha?” Ele disse: “Sim, estou”. E chorava. Eu falava alto, com a intenção de ajudá-lo a sair daquele surto. “Você está com vergonha porque a cortina caiu, e fugiu por causa disso? É isso o que está me dizendo?” Ele respondeu: “Sim, a cortina caiu”.
Então, eu o sacudi mais uma vez e disse-lhe: “E você acredita mesmo que essa será a última vez na sua vida que uma cortina vai cair? Sinceramente acredita nisso? Isso provavelmente acontecerá muitas vezes ao longo de sua vida. E o que vai fazer quando isso acontecer? Me responda! Vai sair correndo cada vez que uma cortina cair? Vai passar a vida fugindo? Você acredita mesmo que comigo ou com seus pais nunca aconteceu algo parecido? Os seus colegas estão lá. Passaram por cima da cortina caída e estão valentemente enfrentando a situação e dando prosseguimento à apresentação. Você vai deixá-los sozinhos? Não vou mais correr atrás de você. Decida se quer continuar fugindo. Se fizer isso, vai ter que fugir o resto da vida, ou então decida se quer voltar e enfrentar essa situação com seus amigos, passar por cima das cortinas, continuar o seu trabalho, e corrigir o que não deu certo”.
Aquele garoto, hoje, é um homem. Um grande profissional em sua área. Casado e pai de lindos filhos. É o executivo de uma empresa instalada no nordeste do Brasil. Tenho amor por ele como a um filho. Ele é perfeccionista desde criança e sempre exigiu muito de si mesmo. Por isso, sentiu-se tão frustrado e envergonhado com a queda das cortinas. Culpava-se e não conseguia perdoar-se pelo ocorrido.
Felizmente, naquela noite ele voltou comigo. Caminhamos em silêncio, lado a lado, abraçados, até chegarmos ao templo. Eu imagino o esforço que ele estava fazendo a cada passo que dava, mas graças a Deus tomou a decisão certa e voltou. Foi uma libertação! Nenhum de nós está imune à possibilidade de passarmos por experiências semelhantes.
Cortinas caem.
A questão é o que fazer diante disso. Qual o lugar que esse “incidente” vai ocupar em nossa mente e coração. Diante de uma cortina caída há frustração, muitas vezes humilhação, decepção e vergonha. Ou corremos ladeira abaixo e fugimos, aproveitando as sombras e recuamos, nos apequenamos; ou enfrentamos, passando por cima da cortina caída, engolimos o choro, e fazemos o espetáculo continuar.
Na Bíblia Sagrada, há um episódio muito parecido com essa experiência da cortina: Josué havia liderado os hebreus na conquista de Jericó, a poderosa cidade-fortaleza, e marchou em seguida contra a pequena cidade de Aí, mas o seu exército foi humilhado diante de uma batalha aparentemente ganha – e não existe batalha ganha antes de se lutar. Foi uma tragédia! Houve frustração, decepção, vergonha.
O que sobrou do seu exército e o seu povo estavam abatidos e chorosos, sem perspectiva. Foi quando ele recebeu uma direção para que parassem de chorar, corrigissem o que precisava ser corrigido, se organizassem estrategicamente e reagissem. Voltaram a enfrentar o povo de Aí e seu exército, e venceram. Depois dessa batalha venceram mais 29 nações na terra de Canaã.
Nem sempre tudo sai como se planeja. E nem sempre também a plateia é tão solidária e respeitosa quanto aquela congregação. Em relação a plateia, muitas vezes, a falta de generosidade, de humanidade, de civilidade e de respeito faz com que algumas pessoas tripudiem sobre as desventuras dos outros. Esquecem-se essas pessoas do conselho de Jesus: “O que quereis que os homens vos façam, façais-vos primeiro”, e também de que a vida é cíclica – é uma roda gigante. Quem está em cima pode em algum momento estar embaixo, e quem está embaixo pode depois estar em cima.
Em relação às cortinas, seja em qual área for, se caíram, não há mais o que fazer a não ser erguê-las novamente na hora certa. O que não tem solução, solucionado está. É necessário prosseguir. O espetáculo da vida precisa continuar! Desejo a todos paz e bênçãos!
* Roberto de Lucena é pastor, escritor, conferencista, deputado federal, vice-presidente Nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT), e presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa na Câmara Federal.